A eleição que dividiu o Brasil, por Pe. Crispim Guimarães


Pe. Crispim Guimarães
Foto: DIV

Oual a linha divisória dos dois Brasis? Nas redes sociais, nas colunas dos jornalistas sem compromisso e na ingenuidade de pessoas que analisam pouco os fatos, deve ser Norte e Nordeste, verso Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

 

Por causa desta infeliz ideia, o país continua brigando, onde acusações se proliferam sem contribuir em nada para a construção da Pátria que todos dizem desejar. A bobagem já está propagada e com ampla repercussão, talvez falte ainda perguntar onde ela surgiu? Quem começou esta história? Pessoas? Partidos? Marqueteiros?

 

Como nordestino que gosta de política desde adolescência, acompanhando os fatos sociais do Brasil, já vi muitas histórias – nem sempre bem contadas. No Nordeste foi muito comum o voto de cabresto, quando a Arena, depois PDS transformado em PFL, dominava todo o território, distribuindo favores, cestas e alarmando “fofocas” sobre os adversários. Mas é bom recordar: quem está com fome olha a vida também a partir da barriga e é justificado, foi assim no passado, penso - que em parte – continua semelhante.

 

O falatório de que as elites brancas e sulistas promoveram a divisão do país nesta eleição, sobretudo no segundo turno, não corresponde à verdade, mesmo porque uma parcela da classe média e dos ricos votaram na Dilma, assim como, uma parte significativa dos menos favorecidos votaram no Aécio. No Sul e Sudeste muitos votam na Dilma, no Nordeste e Norte muita gente também votou no Aécio.

 

Foram os marqueteiros e alguns políticos, raposas velhas, que dividiram o Brasil, num jogo perigoso: “nós contra eles”, agora ambas as partes falam em uni-lo, mas como fazê-lo? Seria bom pensarem antes de disseminarem tanto veneno, colocando as pessoas umas contra as outras. Obviamente que parte da imprensa se prestou a este desserviço. Porém, o mais preocupante é que parte do povo repete as ofensas, uma minoria - como se tivesse brigando com a maioria, é uma maluquice sem tamanho. Quem criou no imaginário popular esta divisão foram os grupos interessados em ganhar a eleição (das duas partes), estes grupos podem no próximo pleito estarem de mãos dadas e o povo novamente ser usado como massa de manobra, sem se recordar o que de fato aconteceu.

 

Alguém ganhou, prometeu renovação, combate a corrupção, que é o pior dos cânceres de uma nação, crescimento econômico, reformas política e tributária, entre outras, cabe ao povo que votou neste projeto e a outra parcela contrária, acompanhar diuturnamente a Presidente, Governadores, Senadores e Deputados para que cumpram com o dever de governar e legislar para toda a população, sem privilegiar classes e regiões.

 

Um meio oportuno para isto, é que o Congresso aprove os projetos de distribuição de renda, de educação e saúde que deram certo, como programa de nação e não como deste ou daquele partido, assim, ninguém pode reivindicar sua paternidade a cada eleição.

 

É lamentável que agora se observe uma onda odiosa de acusações de pessoas das cinco regiões do país, propondo o absurdo de dividir territorialmente a nação, de marginalizar os mais pobres por parte dos mais abastados, ou de satanizar a classe média como causadora de todos os males do Brasil. É bom recordar que os políticos que provocaram esta maldosa e planejada suposta divisão, não são pobres, são pessoas que no mínimo estão na classe média alta, embora todos usem a linguagem de defensores dos pobres.

 

Se estes não são capazes de olhar o Brasil sem seus interesses de poder, ao menos o povo deve tomar cuidado para não cair no mesmo erro, cabe à população outro papel, fiscalizar, cobrar, e se necessário, ir para as ruas, exigir que se cumpra o prometido, não ficar se acusando mutuamente, como se as coisas fossem mudar com este jogo preconceituoso e sem propósito.

 

Ninguém esqueça: nesta eleição a votação foi quase meio a meio, mas existe outra parcela que não quis assumir o projeto de nenhum dos dois grupos, parcela muito significativa, quase 30 milhões que se absteve ou votou em branco, esta também não pode ser esquecida. Ela ficará no Brasil do Norte ou do Sul? Se o jogo eleitoral foi para dividir o país, esta parcela não pode optar por um ou outro. Vamos expulsá-la do Brasil?É isto que queremos?

 

*Pároco da Catedral de Dourados, MS. e-mail: crispimguimaraes@yahoo.com.br


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