'O principal sintoma da H1N1 é a falta de ar, febre de 39ºC e tosse', explica infectologista


Dourados News

A infectologista fala que o momento é de atenção para a população em relação a doença- Fotos: Joandra Alves

Entrevistada da semana do site Dourados News é a média infectologista Renata Maronna Praça Longhi,36, que irá falar sobre o vírus H1N1, do qual foram diagnosticados vários casos da doença no país e também em Mato Grosso do Sul nos últimos dias. Na entrevista ela aborda a questão da vacinação que é específica para grupos de risco, como a doença age, assim como a diferença dela para uma gripe normal.

Segundo a médica, o momento é de alerta e atenção pela população mediante aos vários casos diagnosticados no Estado.

"Na verdade a gente está em uma epidemia no Brasil de H1N1, que começou entre fevereiro e março no estado de São Paulo. Nos últimos anos não houve a vacinação da população, que foi esquecendo de se imunizar. Ano passado a adesão à campanha foi muito baixa o que favoreceu ao vírus se proliferar. O principal sintoma da H1N1 é a falta de ar, isso que a diferencia de uma gripe normal então o momento é de alerta e atenção por parte da população", disse Renata.

A médica que é natural de São Paulo, formada em medicina em 2003 se especializou em infectologia em 2007 é professora na disciplina de infectologia da faculdade de ciências da saúde da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) e médica assistente do HU (Hospital Universitário). Atualmente atua no cargo de gerente de ensino e pesquisa do HU e também em uma clínica particular.

Ela conta que a melhor forma de prevenção da doença é a vacinação, no entanto alguns cuidados devem ser tomados pela população para que não aumente a disseminação da doença. Sobre a vacina ela conta que é 95% eficaz e as pessoas que a tomam, tem menos risco de serem contaminadas pelo vírus.

"A vacina como qualquer medicamento não é 100% eficaz, ela é cerca de 95%, porém a chance de você desenvolver a doença grave ou o óbito é praticamente zero. Hoje é o melhor método de prevenção dessa doença, mas lavar as mãos, usar álcool em gel, evitar ambiente aglomerados também ajuda a prevenir a disseminação", explicou.

Veja a entrevista na íntegra

Dourados News- Quais os principais sintomas que diferenciam a H1N1 de uma gripe ‘normal’?

Renata Maronna Praça Longhi-Tanto o H1N1 quanto a gripe são vírus da influenza. O H1N1 é um vírus que sofreu uma mutação, então ele é capaz de causar sintomas mais graves. A gripe geralmente dura de três a cinco dias e pode causar febre, mal estar, dor de cabeça, pode dar tosse, nariz escorrendo e dor de garganta. No caso do H1N1 os sintomas são um pouco mais graves e fortes, então a febre alta pode durar mais de cinco dias, dor de cabeça e no corpo. A principal diferença é que a dor de garganta não é tão intensa, você tem bastante tosse e falta de ar, o principal sintoma da H1N1.

D.N- Além de levar a óbito, que lesões ela pode causar se não tratada corretamente?

R.M.P.L-Na verdade o H1N1 é capaz de causar uma pneumonia bem grave que causa dificuldade respiratória, o paciente não consegue respirar, ele acaba tendo que ir para um aparelho e acaba evoluindo para o que a gente chama de Sara (Síndrome da Angustia Respiratória Aguda Grave), e essa síndrome que é a dificuldade de troca gasosa, que vai causar a gravidade da doença que pode levar ao óbito.

D.N.- É possível o diagnóstico clínico, ou apenas através de exames?

R.M.P.L-Na verdade o diagnóstico é clínico da gripe, a gente vê que a evolução dela é mais arrastada e o paciente evolui para essa dispneia grave. Então clinicamente é o que a gente Síndrome Respiratória Aguda Grave é o nome disso, então outros vírus da gripe também pode causar isso, mas é mais comum é ser causado pelo vírus do H1N1. Clinicamente a gente pode através do exame clínico do paciente, o que ajuda é um exame de raio X de tórax e o da gasometria arterial que é para ver os gases sanguíneos. Existe um exame que é da secreção da orofaringe que é para você detectar o vírus, com ele você realmente detecta se tem o vírus causando a doença.

D.N-Porque ainda demora para se ter o resultado em relação a confirmação da doença?

R.M.P.L - Esse problema é do laboratório, como nós estamos passando por uma epidemia no Brasil nós estamos sem reagente. O exame não é feito aqui em Dourados, ele vai para Campo Grande ou de quando ele é feito pelo SUS (Sistema Único de Saúde) ou ele vai para outros laboratórios particulares. Como a amostra tem que sair e depois voltar, isso leva a demora do resultado do exame. Mas o tratamento do doente não depende da resposta desse exame, ele é só para confirma da doença o tratamento é instituído a despeito desse exame. Por isso que o diagnóstico é clínico, então se o médico achou que é, ele vai tratar como se fosse e não vai ficar esperando o exame.

D.N.-As pessoas que receberam a vacina realmente ficam imunes a doença ou pode até adquirir, porém de forma leve?

R.M.P.L-A vacina do vírus da influenza ela é com o vírus vivo inativado. E a vacina como qualquer medicamento não é 100% eficaz, ela é cerca de 95% a taxa de eficácia, porém a chance de você desenvolver a doença grave ou o óbito é praticamente zero, para as pessoas que tomaram a vacina. Ela não é zero, mas a chance de você ter uma doença grave é muito pequena e de você precisar parar em um hospital ou em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) é praticamente mínima. A vacina é altamente eficaz e hoje é o melhor método de prevenção dessa doença.

D.N.-De fato, a escolha dos grupos de risco ajudam a controlar uma epidemia?

R.M.P.L - Na verdade é o que a gente chama de ‘vacinação de rebanho’, esse é o nome que a gente usa. O que seria? Quando a vacinamos uma parcela importante da população, a doença tende a circular menos e com isso a chance de ter casos graves diminui. Então chamamos esse método de ‘vacinação de rebanho’, imunizamos aqueles com maior risco de óbito, que são as gestantes, as crianças menores de cinco anos, adultos maiores de 65 anos e pessoas que tem doenças crônicas no pulmão, coração, fígado, rins isso já é uma parcela grande da população. Essas pessoas imunizadas diminuem a transmissibilidade da doença no meio de todos, o que reduz a possibilidade de uma epidemia também.

D.N-Qual a melhor forma de se proteger contra a doença?

R.M.P.L - A melhor forma é tomar a vacina, não existe nada mais eficaz. Agora no frio ficamos com os ambientes fechados, então é bom deixarmos as janelas abertas, pois a doença é de transmissão respiratória, então a gente fica em local fechado ela realmente aumenta a transmissibilidade. Lavar as mãos, usar álcool em gel. Então a lavagem de mão e o uso do álcool em gel ajudam, questões de higiene.

**D.N.-Como é o tratamento das pessoas diagnosticadas com o H1N1?*

** R.M.P.L** - Existe uma medicação chamada de Oseltamivir, que é um antiviral que ele nos vírus da influenza, não só no H1N1 e que a medicação usada em casos graves. Quando há necessidade, a gente não usa em toda a população para evitar a resistência da medicação e ela tem um uso controlado por isso, mas nos casos graves existe essa medicação, ela é utilizada em crianças e adultos e é disponibilizada pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

D.N - Como está a questão do controle dela no Estado?

R.M.P.L - Na verdade a gente está uma epidemia no Brasil de H1N1, que começou cerca de fevereiro e março, no Estado de São Paulo, na região noroeste Paulista e como ela tem a proximidade aqui foi se disseminando. Nos últimos anos não houve a vacinação da população, que foi esquecendo de se vacinar, ano passado a adesão à campanha foi muito baixa com isso favoreceu ao vírus se proliferar. Como ele é de transmissão respiratória e por contato, em que você encosta nos locais que estão contaminados, rapidamente foi se disseminando. Aqui temos casos praticamente no Estado inteiro, desde Campo Grande e é de conhecimento de todos os casos de Naviraí na região sul do Estado, em Rio Brilhante, aqui em Dourados. Não é o momento de algo alarmante, até a semana passada foram 18 casos confirmados aqui em Dourados, mas todos devem se proteger e se atentar a isso agora.

D.N-Atualmente a cidade de Naviraí teve um grande número de pessoas diagnosticadas com a doença, assim como quatro foram ao óbito, como deve ser o tratamento neste local?

R.M.P.L-Na verdade a gente tem que vacinar a população, tentar vacinar a maior parte pois ela previne a doença, então na verdade não seria um tratamento e sim a prevenção e isso consistem em vacinar a maior parte da população possível. Lá sei que foram tomadas algumas medidas, como adiantaram as férias escolares porque começou a ter muitos casos e relacionados a ambiente aglomerados. Então lavar as mãos, usar álcool em gel, evitar ambiente aglomerados, algumas pessoas estão usando máscaras. E quem está gripado, o adulto pode transmitir a doença até sete dias, a criança em até 14 dias. Então no caso de um município assim que está tendo tantos casos, as pessoas que estão com sintomas de gripe devem ficar mais nas suas casas, evitar sair para não transmitir.

D.N.-Atualmente em Dourados quantos casos da doença foram diagnosticados?

R.M.P.L-Em Dourados foram diagnosticados 18 casos da doença até a semana passada [último boletim divulgado antes da publicação da entrevista ocorreu em 19 de maio]. No HU (Hospital Universitário) nós tivemos 36 casos notificados, confirmados foram 11, mas do HU é toda a região. São 32 municípios que não refletem só Dourados. Tivemos óbitos aqui e nenhum de Dourados, dois foram confirmados sendo um de Jutí e outro de Maracaju.


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