'Todo indivíduo com autismo deve ser trabalhado da melhor forma possível', diz psicóloga


Midiamax

Outubro, além de ser o mês alusivo à campanha a favor das mulheres contra o câncer de mama (o Outubro Rosa), é também o momento de celebrar as crianças, principalmente no dia 12 de outubro. Dentro do universo infantil, além dos desafios da maternidade e da paternidade, existem vários momentos de reflexão e conhecimento que devem ser expandidos. Um desses momentos é a questão do autismo. 

Segundo dados do Programa de Transtornos do Espectro Autista do Hospital das Clínicas de São Paulo, estima-se que 90% dos brasileiros com autismo não tenham sido diagnosticados, e logo, não puderam receber, ainda na infância, os estímulos corretos para um desenvolvimento mais pleno. Em Mato Grosso do Sul, esses dados não estão disponíveis. 

Para saber mais sobre a questão, a reportagem do Midiamax conversou com a psicóloga Bruna Karoline, formada em psicologia pela UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), com pós graduação em Terapia Cognitiva Comportamental e cursando pós graduação em Análise do Comportamento Aplicado (ABA) pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos). Leia na íntegra. 

Muitos brasileiros e sul-mato-grossenses não sabem do que se trata o autismo, nem quais seus espectros, muito menos suas implicações. De que forma você pode definir isso?

Autismo é um transtorno do desenvolvimentocom níveis que variam de moderado a grave. O autismo severo, pode incapacitar a criança de falar por exemplo, entre tanto existem formas alternativas de comunicação que permite a criança desenvolver sua independência. Com terapia adequada é possível tornar até mesmo uma criança com autismo severo um adulto independente dentro das suas limitações e habilidades únicas que podem variar. 

Existe uma causa apontada pela medicina ou pela ciência?

A causa do autismo ainda é desconhecida, o que dificulta por exemplo o diagnostico precoce,  entretanto alguns estudos apontam a genética como uma possível causa e não é difícil encontrar casos de autismo entre pais e filhos, fazendo dessa uma possibilidade, entre outras estudadas. Em todo caso independente da causa ou do nível, todo indivíduo com autismo deve ser trabalhado da melhor forma possível, cada criança terá características diferentes e o seu desenvolvimento também é o único, é importante procurar tratamento adequado com terapia comportamental, inserir a criança em um meio típico é uma boa opção, sempre respeitando os limites da criança e valorizando suas habilidades. 

Existem centros especializados em Campo Grande? Fale um pouco da importância desses centros.

Um centro especializado não, hoje o que existe é uma ONG chamada AMA, que oferece uma equipe multidisciplinar e atendimentos como musicoterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e acompanhamento psicólogo. Por ser uma ONG e muitas vezes não fazer uso de muitos recursos, não consegue oferecer as crianças o tempo adequado de cada intervenção, além de enfrentarem uma fila grande de espera, pois são os únicos que oferecem esses atendimentos de maneira gratuita. A importância de um centro especializado é enorme, indescritível, a intervenção com autismo deve ser intensiva, estruturada e deveria estar disponível a toda e qualquer que pessoa que tem o diagnóstico, mas infelizmente essa ainda é uma realidade distante.

Para a família de uma criança com autismo, quais são os principais desafios?

Pelo que observo, que o maior choque é o diagnóstico,quando ele chega é uma mistura de alívio por enfim saber o que esta acontecendo com seu filho e  um medo de não saber exatamente o que vai acontecer a partir de agora. Autismo é um assunto relativamente novo no Brasil, ainda existem muitos “mitos e verdades” que rodam o transtorno. É natural que os pais não saibam o que fazer, como fazer e onde fazer. É papel do profissional que fecha o diagnóstico dar essas orientações e na medida do possível acalmar esses pais, mostrando que existe sim um caminho a seguir e que eles não irão percorrer sozinhos.

O que você diria para os pais de uma criança com autismo?

Que acreditem nos seus filhos, todos eles independe do nível do autismo apresentam suas capacidades. Eles são muito maiores que o diagnóstico, continuem olhando para eles como criança e não somente como uma criança autista. Respeitem o diagnóstico sim, mas não fiquem reféns dele, curtam seus filhos, brinquem, beijem, tenha momentos agradáveis. Faça todas as terapias que podem ajudar seu filho, mas se cuide também, faça você também sua terapia, tenha muito tempo para o seu filho o máximo que puder, mas guarde um pouquinho de tempo para você também. Cuide do seu relacionamento, tenha tempo e cuidado com os outros filhos. A internet é uma ótima ferramenta, mas também muito perigosa, não é por que está na internet é verdade, procure métodos cientificamente comprovados, caminhos confiáveiseprincipalmente confie nos profissionais que trabalharão com seu filho, sem confiança nada caminha e por fim ame de maneira incondicional.

Como é o trabalho dos psicólogos especializados em autismo?

Deve ser um trabalho estruturado, intensivo, diretivo e principalmente individualizado. Cada criança apresentará suas dificuldades e facilidades, o terapeuta deverá identificar quais são e montar um plano de ensino seguindo esses requisitos. Dentro do método ABA trabalhamos com comportando, então é necessário analisar a função de cada comportamento e se necessário estudar estratégias para modifica-los, ou mesmo ensinar um comportamento novo.
O profissional precisa saber que o único ponto de comparação da criança deve ser com ela mesma, cada ganho deve ser comemorado como uma vitória. O profissional que conseguir juntar todos esses pontos, certamente será um profissional realizado pois trabalhar nessa aérea é muito gratificante.


COMENTÁRIOS