'O autoexame não substitui a mamografia como diagnóstico do câncer de mama', afirma especialista


Midiamax

Hilda Guimarães de Freitas, gerente da área da Saúde da Mulher da SES (Guilherme Cavalcante/Midiamax)

Por Guilherme Cavalcante

Outubro é o mês em que tradicionalmente o câncer de mama é pautado na sociedade. O que leva a essa espécie de agendamento, cristalizado na campanha Outubro Rosa, são os altos índices de incidência e também de óbitos decorrentes da doença. Em Mato Grosso do Sul, particularmente, os dados assustam: a SES (Secretaria Estadual de Saúde) trabalha com a estimativa de 820 novos casos em 2016, dos quais 460 ocorrerão somente em Campo Grande. Já a taxa de incidência por 100 mil habitantes é de 85,69 em Na Capital e 65,23 em Mato Grosso do Sul, conforme dados da secretaria. Para comentar e apresentar um balanço das ações do governo do Estado para com a doença que mais mata mulheres no mundo, o site Midiamax conversou com a enfermeira Hilda Guimarães de Freitas, gerente da área da Saúde da Mulher da SES. Em entrevista, Freitas destacou a importância do diagnóstico precoce e porque a informação sobre o câncer de mama pode ser a diferença entre uma mulher permanecer viva ou morrer. Confira.

Mato Grosso do Sul tem índices de câncer de mama considerado alto entre as mulheres, seria o 5º do Brasil de acordo com o Ministério da Saúde. Qual é o papel da informação para contornar essa estatística?

Realmente, o Estado tem uma alta incidência de câncer de mama. Mas, é bom lembrar que essa estatística tem muito a ver com a característica da população de Mato Grosso do Sul. Aqui as mulheres têm numero de filhos bastante reduzido, e isso faz com que cada vez que ela menstrue haja uma enorme carga de hormônio sobre a mama. Para que a gente diminuísse a estatística, teríamos que mudar as características da população, que é um caminho muito complexo, muito complicado. Então, é daí que vem a importância do Outubro Rosa, para levar a informação até a mulher, a fim de possibilitar o diagnóstico precoce e disseminar práticas saudáveis, como alimentação e atividade física, principalmente à mulher que está no grupo de risco, que são aquelas que têm mais de 50 anos, com quadro de obesidade e sedentarismo. O diagnóstico precoce só é possível pela mamografia, que é o exame de escolha para as mulheres a partir dos 50 anos. E esse diagnóstico precoce possibilita a cura do câncer de mama em 100%. Porque, como eu te disse, a estatística está relacionada com os hábitos culturais, algo que é mais complexo, Logo, a nossa preocupação é diminuir o número de óbitos e esse diagnóstico precoce é fundamental.

A senhora acabou de mencionar que a mamografia é o que possibilita o diagnóstico. Nesse contexto, qual é o papel do autoexame, então?

De fato, o autoexame não funciona como diagnóstico. Ele serve mais para possibilitar à mulher o conhecimento sobre o próprio corpo. Veja, é muito importante, eu diria que é fundamental que a mulher se toque, que conheça seu corpo. Mas, atualmente, o autoexame não é mais recomendado como diagnóstico. O que temos, atualmente, é o exame clínico da mama, que é quando o profissional médico ou enfermeira qualificados examinam a mama da mulher. Mas, mesmo no exame clínico, existe a possibilidade desses profissionais não perceberem uma microcalcificação, que são os nódulos do tamanho de um grão de areia. Daí, a necessidade da mamografia.

Uma das queixas das mulheres é do incômodo da mamografia...

Realmente, a mamografia dói, incomoda, principalmente quando a mulher é mais jovem, por ter uma mama mais densa. Mas, é um incômodo tão passageiro e que pode salvar a vida. Essa também é uma das ações do outubro Rosa. Neste mês, a gente também chama atenção para que as mulheres se deem de presente uma mamografia, para que procurem o serviço público ou o plano de saúde para realizar esse exame. Na rede pública, atualmente, esse serviço está disponível em quase todos os municípios de Mato Grosso do Sul. E naqueles onde não há, o município encaminha ao centro de referência mais próximo, para que elas façam o exame. Se for identificada alguma alteração, o profissional que for analisar esse resultado já vai solicitar exames complementares. Vale lembrar que nem toda alteração na mamografia vai ser o fim do mundo, mas a mulher precisa ter essa coragem de ir atrás da cura imediatamente e ter esclarecimento do que realmente é necessário para saber se é ou não um câncer. E se for o caso, tratá-lo, pois há uma chance de cura, que pode ser de 100% se o diagnóstico for precoce.

Uma prática comum das secretarias de saúde Brasil a fora para combater a desinformação é a sensibilização das mulheres em tratamento para que elas sejam uma divulgadora tanto da realidade do câncer de mama como dos tratamentos e do acesso á mamografia. Funciona assim também aqui em MS?

Sim, é uma prática recorrente e até antiga. A secretaria vem trabalhando com os hospitais que fazem o tratamento. Por exemplo: a Rede Feminina de Combate ao Câncer tem trabalhado isso. Isso porque nós sabemos que a idéia que vem à cabeça ao se falar em câncer é aquele choque e, na sequência, achar que vai morrer e todo aquele impacto decorrente disso. Isso é desinformação. E essa prática de levar mulheres em tratamento para promover a conscientização é para mostrar que é possível recuperar-se e curar-se da doença. As mulheres que estão vivendo esse processo falam disso de maneira muito mais fácil, real e espontânea do que nós, profissionais da saúde e que não vivemos esse processo. Então, o grupo de apoio é uma estratégia muito interessante de ser trabalhada.

Existe a Lei dos 60 dias, uma legislação nacional aprovada em 2012, que obriga os Estados e municípios a iniciarem o tratamento de mulheres com câncer em até 60 dias. Entretanto, os dados nacionais de casos registrados no Siscam (Sistema Nacional de Câncer) apontam que das 27.248 pacientes, 57% tiveram o prazo máximo respeitado. Mas, 43% das pacientes demoram pelo menos 90 dias para iniciar o tratamento. Como é esta realidade em Mato Grosso do Sul?

A gente tem tentado melhorar esse tempo entre a descoberta e o início do tratamento. Tenho que destacar que o Siscam, que é alimentado pelos hospitais que tratam câncer, ainda tem dificuldade de tirar relatórios concisos e confiáveis sobre esse acesso. Porém, o que nós temos percebido, nos 79 municípios, é que é comum que quando uma mulher faz a mamografia, muitas vezes ela demora, por um motivo ou outro, a iniciar o tratamento. Muitas nem sequer vão buscar o exame. O que a gente tem percebido não só pelo sistema, mas pela fala com os coordenadores de todos o municípios é que houve uma melhoria, mas ainda não o que a gente precisa. O ideal é que 100% das mulheres, após o diagnóstico, tivessem entrado nos hospitais de câncer para realizar seus tratamentos. É realmente um grande desafio para nós melhorar essa logística. Mas vale lembrar que nesse problema há muitas variáveis. Por exemplo, ainda há poucos médicos mastologistas. Além disso, a mulher que recebe diagnóstico para câncer e que precisa passar por um mastologista depende do município para vir aqui fazer a consulta. Quer dizer, são muitas variáveis, que estamos tentando equalizar diariamente. E as usuárias podem fazer para contribuir nessa mudança logística. Basicamente, elas são muito importantes para nos ajudar a mapear as localidades onde as dificuldades logísticas acontecem. Para isso, elas podem acionar a Ouvidoria da SES e relatar as dificuldades que enfrentaram.

Serviço – Ouvidoria da Secretaria Estadual de Saúde de mato Grosso do Sul:
Telefones: 0800 647 0031 (gratuito) / (67) 3312 – 1128 / 3312-1185 / 3312-1186 / 3312-1187
E-mail: ouvidoriasus@saude.ms.gov.br


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