NOVEMBRO AZUL: 'A cultura machista faz com que homens não procurem ajuda médica', afirma urologista


Midiamax

O médico urologista Luís Augusto Seabra Rios (Divulgação)

Por Guilherme Cavalcante

Segundo informações do Instituto Nacional do Câncer, até o fim de 2016, mais de 61 mil casos de câncer de próstata serão registrados no Brasil. Isso implica em cerca de 13 mil mortes anuais - uma média de um óbito a cada 40 minutos. Entretanto, essa estatística assustadora poderia ser bem menos se simplesmente os homens frequentassem anualmente um urologista, de forma que a doença pudesse ser identificada em estágio inicial e, consequentemente, tratada. É neste contexto que surge a campanha Novembro Azul, criada criada pelo 'Instituto Lado a Lado pela Vida' para conscientizar homens da necessidade de irem ao médico e para combater os elementos culturais que são obstáculos. Para esclarecer alguns pontos sobre a saúde do homem e sobre o Novembro Azul, o Jornal Midiamax conversou com o médico urologista Luís Augusto Seabra Rios, responsável pela unidade de Urodinâmica do Hospital Albert Einstein e pelo setor de Urologia Feminina e Urodinâmica do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. Confira.

Jornal Midiamax - Nós estamos saindo de uma campanha nacional pela prevenção ao câncer de mama e de colo do útero, que mata milhares de mulheres a cada ano, o Outubro Rosa. Agora em novembro o alvo é o homem e sua saúde, mas o enfoque é um pouco diferente, porque aqui temos a displicência do homem com a própria saúde e, parece-me, o preconceito do exame de próstata. Por que o homem age dessa forma com a própria saúde?

Luís Augusto Seabra Rios - Existe uma questão cultural muito forte aí. Desde as preocupações com a sexualidade como eventuais disfunções. Em relação à sexualidade, está a questão do toque retal, que é a forma como o médico urologista detecta anormalidades na próstata e por conta de uma cultura machista, isso é uma questão que está rodeada de preconceitos. Um outro aspecto é que o homem acha que qualquer interferência na próstata pode afetar a potência sexual. Não o toque, exatamente, mas se ele tiver que fazer algum procedimento cirúrgico na região. Muitos homens acreditam que o tratamento de câncer de próstata pode deixá-los com disfunção erétil.

Além do câncer de próstata, há outras doenças que atingem homens e que poderiam ser prevenidas?

Acho que prevenção é um termo inadequado neste contexto. Não é o exame anual que vai prevenir uma doença, mas identificá-la em estágio inicial, ou seja, o diagnóstico precoce. Ainda tem a questão de que algumas doenças de próstata se manifestam muito lentamente, então o paciente vai achando que é normal, que é uma decorrência da idade e muitas vezes ele nem se dá conta de que está com um problema prostático - muitas vezes benigno -  mas que traz desconforto. Mas existem, sim, outras doenças negligenciadas pelo homem, que é muito menos afeito a visitas médicas, no Brasil. As mulheres se acostuma, têm como norma desde muito cedo pelo menos a visita anual ao ginecologista, e isso traz uma frequência, uma rotina de ir ao médico que contrasta com os homens. Mas, ele precisa cuidar do coração, da glicose e do colesterol e não cuida. Tudo isso está relacionado à questão cultural que já mencionei, o machismo, enfim. Muitos confundem a necessidade de estarem bem e serem fortes com a não necessidade de cuidar da saúde. Em resumo, eu acho que existe essa displicência pela falta de um hábito, como as mulheres fazem desde muito cedo.

A campanha do Novembro Azul passa por uma mudança neste ano. A iniciativa quer ampliar os cuidados para com a saúde do homem, certo?

Exato. A gente percebe que o homem, quando ele se dá conta de que precisa ver a questão da próstata, ele chega ao consultório e nunca fez um hemograma, nunca foi a um cardiologista. Então ele pode ser diabético, hipertenso, ter cardiopatia e jamais saber. A realidade é que o homem não cuida da semana como um todo. O homem precisa saber que ele pode ficar doente e que grande parte das coisas que os médicos detectam são curáveis e tratáveis. A procura pelo médico só vai trazer benefícios, o homem precisa vencer este obstáculo. Sabemos que existe esse medo, infundado, de que qualquer tratamento na próstata deixe o homem importante. Bem, não é verdade. Pois, mesmo quando esta disfunção erétil ocorre, nos casos de câncer de próstata, ela pode ser tratada, é possível reverter e devolver o homem a função sexual.

O que o senhor acha da criação de 'Hospitais do Homem', a exemplo dos hospitais que atendem mulheres? Ajudaria a reverter esse obstáculo cultural que os homens têm para buscar acompanhamento médico?

Eu não acredito em hospitais voltado para o homem. Eu acho que o necessário é a atenção, o esclarecimento, a insistência e a divulgação de que o homem precisa de um controle adequado da saúde. A saúde pública tem que ser informativa e dar as condições para que o homem seja atendido em qualquer local, assim como eu acredito que a mulher também tem que ser assim. Criou-se essa 'moda' de se ter lugares específicos. Eu acho que as pessoas precisam aprender ir ao médico. Ter um hospital específico para isso gera uma série de custos que talvez não sejam necessários. O que é preciso, mesmo, é que o homem se conscientize e passe a frequentar o médico.


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