'Preocupação é que mosquito Aedes volte a transmitir febre amarela', diz médica


Dourados News

Nos últimos meses, a sociedade brasileira tem entrado em estado de alerta com a notícia do aumento de casos de febre amarela, doença que desde 1942 é considerada erradicada em áreas urbanas, ficando seu ciclo restrito às regiões de mata, com a transmissão feita por mosquitos silvestres.

No entanto, dados do Ministério da Saúde dão conta de que um surto que teve início em Minas Gerais, em meados de 2016, já levou a óbito 42 pessoas, sendo que desde o início do ano passado até o dia 27 de janeiro, de sexta-feira, 555 casos suspeitos foram notificados. Desses, 87 confirmados, 26 descartados e 442 ainda sob investigação.

A preocupação reside no fato de que, com tantos casos, a doença possa se alastrar para as áreas urbanas, sob o risco de passar a ser transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, vetor cujo controle já tem causado grandes transtornos na saúde pública em função de enfermidades como dengue, zika e chikungunya.

Para abordar detalhes sobre a doença, o a unidade de Comunicação Social do HU-UFGD Hospital Universitário- Universidade Federal da Grande Dourados- entrevista médica infectologista Renata Maronna Praça Longhi que é médica na instituição, docente e Mestre em Saúde Pública pela Fiocruz.

Ela aponta que a vacinação feita de forma adequada é a melhor maneira de evitar casos graves da doença e diz não acreditar que o quadro se alastre para todo o País, pois a população vem sendo rotineiramente imunizada conforme o calendário vacinal do Ministério da Saúde.

Para ela, o repentino aumento dos casos está ligado aos prejuízos causados ao meio ambiente por ação humana.

Confira a entrevista completa, realizada pela Unidade de Comunicação Social do HU-UFGD:

Devido ao recente aumento dos casos de febre amarela no Brasil, havendo 42 óbitos até o momento, as pessoas estão preocupadas com o contágio. Como a doença é transmitida e quais suas características?

Renata Marrona Praça LonghiA febre amarela é uma doença cuja transmissão ocorre por meio de picada de mosquito. A espécie que mais transmite é denominada Haemagogus ssp. Essa espécie, habitualmente, vive em áreas de mata, e a doença é mantida no ambiente através de espécies de animais silvestres, principalmente macacos. O ser humano pega a doença acidentalmente, quando visita essas regiões. O mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue e outras enfermidades, também pode se tornar o vetor da febre amarela em área urbana, porém não há nenhuma evidência deste tipo de ocorrência até o momento.

De acordo com o Ministério da Saúde, os casos registrados recentemente são do tipo silvestre. Quais as diferenças entre a febre amarela silvestre e a urbana?

R.M.P.LA doença é típica de regiões de mata e de floresta amazônica, transmitida por artrópode típico dessas áreas. Como já citado acima, o mosquito Aedes aegypti também pode transmitir a doença, porém desde os anos 1940 do século passado não há registro de febre amarela urbana no País, apenas transmissão silvestre em áreas de mata. Com este novo surto, no entanto, existe chance que este tipo de transmissão aconteça.

Existem outras enfermidades que podem ser confundidas com a febre amarela por possuírem sintomas similares?

R.M.P.LSim. Dengue, hepatites virais, malária, leptospirose e outras infecções graves podem ser confundidas com a febre amarela por terem sintomas semelhantes.

UCS/HU-UFGD – Como é feito o diagnóstico da doença? Existem exames específicos?

R.M.P.LO diagnóstico da doença é feito por meio de exames sorológicos específicos, disponíveis para realização pelo Sistema Único de Saúde (SUS), devendo ser solicitados em caso de suspeita da doença.

Até a última sexta-feira (27), 555 casos suspeitos de febre amarela haviam sido registrados pelo Ministério da Saúde no Brasil, sendo um deles em Mato Grosso do Sul. O surto é o maior desde 1980, quando o Ministério passou a disponibilizar os dados da série histórica, havendo 87 casos confirmados até o momento (de janeiro de 2016 a janeiro de 2017). A população do estado deve ficar em estado de alerta para um possível alastramento da doença?

R.M.P.LNão há necessidade, pois a população do Estado é rotineiramente vacinada contra a doença, já que a vacina faz parte do calendário de imunização. Quem já tomou duas doses está imunizado para a doença e não precisa se preocupar. Além disso, o surto está concentrado nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo.

É de conhecimento geral que no Brasil a vacina para imunização contra a febre amarela é fornecida para a população pela rede pública de saúde. Ela garante total proteção contra a doença? Como é a rotina de vacinação, ou seja, a quem se indica, com qual idade e em quantas doses? Existe contraindicação a algum tipo de público?

R.M.P.LA vacina ofertada pelo Ministério da Saúde é composta de vírus vivo atenuado e é altamente eficaz em evitar casos da doença, incluindo os de maior gravidade. Deve ser ministrada uma dose e, dez anos depois, o reforço. Em crianças, uma dose aos nove meses de vida e o reforço aos cinco anos. Pessoas com baixa imunidade (que estão em tratamento para câncer e fazem uso crônico de corticoides ou outros imunodepressores), além de gestantes, não devem fazer uso da vacina.

Que cuidados uma pessoa que apresenta os sintomas da febre amarela deve tomar?

R.M.P.LAo manifestar os sintomas similares, o paciente deve procurar atendimento médico com urgência para que seja feita uma avaliação.

O repentino aumento do número de casos no Brasil pode estar ligado a fatores ambientais como o desastre ocorrido na cidade de Mariana (MG) e à falta de tratamento adequado aos resíduos e aos possíveis focos do mosquito transmissor?

R.M.P.LO homem vem, desde o seu surgimento na Terra, alterando o meio ambiente de forma dramática. O aquecimento global, o desastre ambiental de Mariana, o desmatamento para criação de gado e lavoura estão acabando com a natureza e com os animais. Que outra resposta a Terra pode nos dar? Há quantos anos passamos por situações semelhantes? Acredito que somos nós que não estamos entendendo os avisos da nossa grande Mãe Terra. Os animais com cada vez menos espaço para viver e os seres humanos invadindo o pouco que pra eles sobrou. O resultado é simples e já deu pra notar.


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