Tentativas de jogar Dilma contra Lula fracassaram


Dourados Informa

 Paulo Moreira Leite e Claudio Dantas Sequeira


Aos 59 anos, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, cumpriu uma trajetória rara em qualquer governo. Economista por formação, assumiu o Ministério da Ciência e Tecnologia na cota dos indicados por Luiz Inácio Lula da Silva. Promovido depois para uma pasta estratégica, a Educação, tornou-se integrante do restrito círculo de assessores ouvidos pela presidenta a qualquer hora, a respeito de qualquer assunto que possa incomodar o governo. Mercadante abriu três horas numa agenda sempre apertada para falar à Istoé. Além de discorrer sobre os principais programas de sua área e do governo, entre eles o Mais Médicos, Mercadante falou de política. Disse que Dilma foi a única que mostrou a cara e dialogou com as ruas durante as manifestações e que todas as tentativas de colocar a presidenta contra Lula fracassaram. Por isso, segundo ele, o apoio de Lula à reeleição de Dilma está assegurado em 2014. “Enquanto isso, a oposição parece dividida, não tem segurança sobre seus candidatos”, afirmou Mercadante.

ISTOÉ -
A popularidade da presidenta Dilma voltou a subir, a inflação recuou, mas, quando tudo parece melhorar, o dólar pode se tornar um problema?

ALOIZIO MERCADANTE -
Precisamos entender que estamos no meio da mais grave crise econômica desde 1929, que atingiu profundamente os Estados Unidos, maior economia do planeta. A anúncio de que o FED (banco central americano) irá reduzir estímulos ao crescimento e elevar os juros provocou uma fuga de capitais que pressiona as demais ­moedas. O Brasil tem uma posição sólida, com US$ 380 bilhões em reservas e uma dívida pública de 30%, a metade do que era há uma década. O câmbio pode ter um impacto inflacionário, e isso é muito ruim. Mas a mudança aumenta a competitividade da indústria e a rentabilidade da agricultura, estimula as exportações e melhora a balança comercial e o emprego.

ISTOÉ -
E qual é a expectativa para o segundo semestre?

ALOIZIO MERCADANTE -
O segundo semestre parece promissor. Teremos concessões importantes de rodovias, aeroportos e hidrovias que vão alavancar o investimento. Em outubro, vamos ter a licitação do campo de Libra. É a maior licitação da história da economia brasileira. Em 70 anos de petróleo, o Brasil tem 15 bilhões de reservas comercializadas. Libra é de 8 a 12 bilhões. Para produzir, serão necessárias 17 plataformas. Só isso vai desencadear investimentos em toda a cadeia.

ISTOÉ -
Mas o gargalo nos transportes é imenso e não se resolve em seis meses...

ALOIZIO MERCADANTE -
Quando um País retoma o crescimento após 20 anos de crise, não tem resposta na velocidade necessária. Isso também acontece em outras áreas, como a saúde, que perdeu R$ 43 bilhões com o CPMF, e também a segurança pública. 


ISTOÉ -
Os problemas eram políticos?

ALOIZIO MERCADANTE -
Em alguns lugares a questão era política. Por muitos anos São Paulo não aceitava parcerias com o governo federal. Minas Gerais também era assim. Agora mudou.

ISTOÉ -
A meta de construir seis mil creches até o fim do mandato não é difícil de ser alcançada?

ALOIZIO MERCADANTE -
Já entregamos 1,2 mil. Implantamos um novo método de construção industrial, e não artesanal. As creches ficam prontas em cinco ou sete meses e têm um custo 24% inferior. Aqui do meu gabinete, fazemos acompanhamento online para cobrar os prefeitos. Vamos chegar a 2014 com quatro mil creches e até o final do ano esperamos atingir a meta.

ISTOÉ -
Considerando o trabalho imenso que a educação exige, como é possível envolver-se em outras áreas do governo?

ALOIZIO MERCADANTE -
Minha atenção à educação é quase integral. Acontece que esse ministério tem muitas interfaces. Por que as viagens internacionais com a presidenta? As viagens internacionais são momentos importantes, dá para conversar sem ninguém para interromper, e isso é bom. Mas o principal é que a Ciência e Tecnologia e a Educação entraram no topo da diplomacia brasileira. Temos hoje no “Ciência Sem Fronteiras” 43 mil estudantes em universidades de todo o mundo e 749 pesquisadores visitantes, inclusive dois prêmios Nobel que estão trabalhando no Brasil.

ISTOÉ -
Por que o sr. atuou no programa Mais Médicos?

ALOIZIO MERCADANTE -
O programa é uma interface entre educação e saúde. A graduação em medicina está no MEC, assim como a residência, a comissão de especialistas em saúde e educação médica, o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas (Revalida). Quem vai fazer a supervisão e a tutoria dos médicos estrangeiros? O MEC, através das universidades federais.

ISTOÉ -
A ideia de aumentar em dois anos o curso de medicina foi tomada em conjunto?

ALOIZIO MERCADANTE -
A medida provisória dizia dois anos na graduação ou na modalidade residência. Todos os diretores de faculdade apoiaram, as quatro entidades médicas de educação e saúde também. Nos EUA, o curso de medicina é de oito anos, o mesmo na África do Sul, em Portugal, em Cuba. Todos têm de um a dois anos de estágio obrigatório. Nós temos seis anos e fizemos um acordo que pega os dois anos da graduação e garante que o aluno vai atuar na emergência do SUS.

ISTOÉ -
Por que esses médicos estrangeiros são dispensados do Revalida?

ALOIZIO MERCADANTE -
Nós queremos trazer médicos para atuar em regiões onde os profissionais não querem trabalhar, porque têm condições de ter uma remuneração maior e uma vida muito mais confortável em outros lugares. O problema que tentamos resolver é esse. Se trouxermos um médico para ser aprovado no Revalida, ele terá o direito de trabalhar onde quiser, como quiser, para quem quiser. Você acha que ele vai escolher viver no semiárido nordestino ou na Amazônia? Temos 1,2 mil cidades com um médico para cada três mil habitantes. Outras 700 sem nenhum médico. Nesses casos, oferecemos R$ 10 mil de salário, mais R$ 40 mil de bônus se ele vai para a Amazônia. Se for estrangeiro, fica dois anos e pode renovar por mais dois, com supervisão. Na atenção primária, isso resolve 80% do problema da saúde. 


ISTOÉ -
Por que lançar o Mais Médicos logo depois dos protestos?

ALOIZIO MERCADANTE -
O programa foi debatido por mais de um ano, mas se viabilizou por causa das manifestações de rua, que destravaram a agenda. Esperávamos a reação das entidades médicas. Mas não podemos aceitar que uma cidade não tenha nem sequer um médico e que o governo não tenha o direito de colocar um médico lá.

ISTOÉ -
O sr. acha que os protestos ajudaram o governo?

ALOIZIO MERCADANTE -
A presidenta Dilma foi a única liderança do País que dialogou com as ruas, fez uma agenda e colocou essa agenda em prática. Por isso, começou a se recuperar nas pesquisas. Ela demonstrou liderança. Outras lideranças desapareceram na crise, não apresentaram nada.

ISTOÉ -
O PMDB virou oposição no Congresso. Por quê?

ALOIZIO MERCADANTE -
O PMDB é um aliado fundamental e as votações que tivemos demonstram isso. No orçamento impositivo, o governo quer que 50% das emendas individuais sejam para a saúde. Assim, colocaremos R$ 3 bilhões na área. Isso vale para outras questões. No fundo, precisamos aprender a calibrar a urgência da Câmara com a prudência do Senado. Os vetos preocupam, mas eu acho que o Congresso não vai derrubar nenhum veto que possa ter impacto fiscal.

ISTOÉ -
O sr. vai coordenar a campanha de reeleição de Dilma?

ALOIZIO MERCADANTE -
Não existe esse papo. Dilma será candidata com apoio de Lula, enquanto a oposição parece dividida, não tem segurança sobre seus candidatos. Ninguém sabe se Marina Silva vai se viabilizar. A candidatura de Eduardo Campos não está decidida.

ISTOÉ -
Há dúvida sobre a candidatura do governo?

ALOIZIO MERCADANTE -
O presidente Lula sempre disse que a candidata dele é a Dilma. E todas as tentativas de colocar um contra o outro fracassaram. O governo será julgado pelo que fez e pelas melhorias que levou à vida das pessoas. As melhorias estão aí. Melhora recorde no IDH, crescimento que gera emprego até na crise, a maior distribuição de renda da história. É essa história que vamos contar em 2014.

ISTOÉ -
Dilma ainda precisa do Lula no palanque, então?

ALOIZIO MERCADANTE -
O Lula é a maior liderança popular da história do Brasil. Essa liderança não tem como se apagar, e a presidenta Dilma sabe a importância que o Lula tem para a história e o governo dela. Foi por isso que ela ganhou a eleição. A presidenta sabe disso, todos nós sabemos. E o presidente Lula tem a grandeza de não querer um terceiro mandato.

ISTOÉ -
Por que o sr. desistiu de concorrer ao governo de São Paulo?

ALOIZIO MERCADANTE -
Estou numa fase da vida em que o projeto coletivo está acima do pessoal. Quando isso acontece, você não escolhe, é escolhido. O PT vai fazer sua escolha para São Paulo e o nome que está se consolidando é o do ministro Padilha. A presidenta pediu para ficar e eu encaminhei uma carta ao diretório com a decisão. Estou num ministério que tem papel extraordinário. É uma honra trabalhar com ela e na função que estou. Estou satisfeito com meu papel. Pela minha vivência, ajudo a resolver problemas, mas respeito a área de cada um.

ISTOÉ -
julgamento do mensalão está na fase de recursos no Supremo. Está otimista?

ALOIZIO MERCADANTE -
Todo cidadão tem direito a uma segunda instância, com novo júri e novo juiz. Sei que há uma pressão de todos contra a cultura da impunidade. Mas existe um valor fundamental, que é o direito democrático. Essa decisão ficará para a história da Justiça, assim como a controversa teoria do domínio do fato. Eu tenho minha convicção de que o mensalão não existiu, que aquilo não era compra de votos, mas caixa de campanha. Agora, a ISTOÉ revelou uma denúncia muito grave, o escândalo do Metrô em São Paulo.

ISTOÉ -
O sr. acha que a investigação terá o mesmo rigor?

ALOIZIO MERCADANTE -
A investigação internacional sobre as práticas ilegais de uma das maiores empresas de tecnologia do mundo indica que houve uma forte ramificação em São Paulo, onde foram feitos pagamentos a políticos do PSDB. O Brasil é hoje rigoroso, o Ministério Público, o Judiciário. Espero uma investigação que não tenha medo de encarar as provas e indícios que estão aparecendo. 


Fonte: http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/321806_LULA+TEM+A+GRANDEZA+DE+NAO+QUERER+UM+TERCEIRO+MANDATO+


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