Entre o educar e o punir, por Gleison Mendes


Do Laguna Informa

A Lei Menino Bernardo aprovado em 04 de junho de 2014 foi aprovada no Senado Federal e vem sendo alvo de discussões polêmicas.  Mais importante que nos posicionarmos em um debate do contra ou a favor, devemos perceber como uma instituição social de extrema importância, que é basilar na formação sócio-cultural do futuro adulto, vem sofrendo interferência direta do Estado. A lei proíbe qualquer ação punitiva física ou psicológica como forma de educação ou para qualquer outro intuito, independente do resultado que advir de tal coerção.

 

À primeira vista a lei parece cheia de boas intenções, pois, elimina uma forma arcaica de “educar” as crianças. Estamos tão acostumados a naturalizar o fenômeno da violência, que nos desesperamos, como se a única forma coercitiva de demonstrar limites fosse através da força física. Esquecemos que a argumentação, é outra forma de mostrarmos os limites aos nossos filhos. Ou, nosso próprio comportamento, com as demais pessoas influencia diretamente na formação de nossas crianças.

 

Mas por que só agora, nos chocamos? Só agora percebemos que perdemos o total direito natural de educar nossos filhos?

 

Independente de uso da força física ou não, o direito de educar está sub-relevado aos pais. A lógica do Mercado, faz com que homens e mulheres saiam de suas casas para a manutenção e sustento de seus lares, sendo que a criação de filhos e o próprio projeto de se tornar pai ou mãe torna-se um privilégio, e um privilégio para poucos. E assim, quando se concretiza tal projeto, logo nos vemos obrigado a voltar ao mercado de trabalho, a continuar essa lógica de manutenção econômica do lar. E cada vez mais cedo, as crianças estão indo para as creches e escolas,  permanecendo a maior parte de seu tempo longe de sua família biológica, criando vínculos e tendo como princípios muitas vezes valores que não gostariam de estar repassando a  seu filho. Cada vez mais cedo, e devido essa coerção de nos incluirmos no mercado de trabalho, faz com que nossos filhos seja criado pela televisão, pela internet, pelas igrejas, por escolas, por todos os tipos de instituições sociais, mas, geralmente, pulando uma grande norteadora das relações sociais que carregamos conosco durante nossas vidas, que é a instituição família.

 

Por que só agora nos escandalizamos? Mais que obter resposta , fica a reflexão e a pergunta: Para que estamos educando nossos filhos? Para quem? Por que?

 

Quem sabe, com essa palmada um pouco mais forte que levamos, podemos refletir, independente do tipo de formação familiar, quais valores quero deixar para as futuras gerações? Da violência ou a cultura da paz? Da intolerância ou do respeito ao próximo? Do castigo ou da argumentação?

 

Gleilson Santos Mendes – Acadêmico Ciências Sociais UFGD


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